quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Literatura de Cordel : A tradição medieval

A literatura de cordel é uma expressão literária popular característica do interior do Nordeste, em especial dos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Consiste em narrativas escritas em versos e impressas em pequenos folhetos de papel jornal com uma capa contendo uma xilogravura como ilustração. Esses folhetos normalmente são expostos em cordas, por isso a denominação "literatura de cordel". É construída de acordo com um vasto repertório de formas poéticas fixas que delimitam a quantidade de sílabas poéticas, de versos e a disposição das rimas na estrofe. Feita com o objetivo de ser declamada nas feiras públicas, é um produto cultural em que o público exerce um importante papel, visto que o poeta tenta adequar sua linguagem à dos seus ouvintes. Deve-se ressaltar ainda que, por terem tido pouco acesso ao ensino formal, a maioria dos produtores de cordel é autodidata.
As origens do cordel podem ser traçadas até as tradições medievais da literatura européia. As canções de gesta, as narrativas históricas, novelescas ou fantásticas, as histórias bíblicas e os exemplários (contos usados para ilustrar tratados morais) são algumas das fontes que contribuíram para o seu surgimento. O libreto europeu, trazido para o Brasil pelos portugueses, pode ser apontado como uma espécie de ancestral do folheto de cordel. Contudo, sua matriz não é exclusivamente européia, as histórias ibéricas foram transplantadas já possuindo contribuições orientais e africanas, e receberam aqui um novo influxo das culturas africanas e indígenas, em especial através da influência do conto folclórico.
Os primeiros folhetos de cordel coletados no Brasil datam de 1890, mas é quase certo que as manifestações do cordel já se façam presentes na metade do século XIX. Leandro Gomes de Barros (1865 - 1918) é reconhecido como o primeiro cordelista de que se tem notícia. A formação do público do cordel no Nordeste está ligada ao nascimento das feiras de agricultores. A falta de um uso sistemático de meios de comunicação impressos deu força a uma tradição de comunicação oral, e durante muito tempo foram os cordelistas que forneceram informação e divertimento para a população do meio rural nordestino.

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