segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capitu traiu Bentinho?

Dom Casmurro, do grande Machado de Assis, é obra indicada em pelo menos nove de cada dez exames vestibulares. Muito? Pouco, talvez devesse ser indicada em todos. Pela importancia imensa de seu autor; não se pode falar em literatura nacional sem falar de Machado de Assis. Fundador da Academia Brasileira de Letras, autor de alguns dos maiores romances brasileiros, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Memorial de Aires, e o não menor, Dom Casmurro, além de contos e artigos periódicos ainda atuais.
 A história é narrada em primeira pessoa pelo protagonista, Bentinho, filho de viúva rica no Rio de Janeiro do Segundo Império. Bentinho cresce junto com sua vizinha Capitu de “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, por quem se apaixona. Para cumprir promessa de sua mãe é mandado a um Seminário, onde faz amizade com Escobar, “filho de um advogado de Curitiba”. Convencendo a mãe, com ajuda do agregado José Dias, que não tinha vocação para a vida religiosa, vai estudar em São Paulo, e ao voltar casa-se com Capitu, passando a conviver com Escobar e sua esposa Sancha. Quando Escobar morre afogado, Bentinho entra em crise, desconfia de Capitu e de que o filho do casal seria na verdade de Escobar.

Dom Casmurro, publicado em 1899/1900, contém um mistério que atravessou o século XX e provavelmente vencerá o XXI: Capitu traiu Bentinho? Esta pergunta, possivelmente, não será feita em nenhum processo seletivo, pois dependerá da interpretação efetuada pelo próprio leitor, a quem o prazer de fazer a leitura propiciará chegar à sua própria conclusão sobre esta questão. Questão apaixonante e desafiadora; alinham-se argumentos demolidores e definitivos a provar que Capitu traiu, Dalton Trevisan é arrasador: “Se Capitu não traiu Bentinho, Machadinho chamou-se José de Alencar”. Outros argumentos tão demolidores e definitivos são brandidos, também de forma brilhante, pelos que acreditam que Capitu jamais traiu e que Bentinho era um delirante; misto de Otelo e Hamlet, a clamar por vingança pela traição que só teria ocorrido em sua fantasia.

Não há dúvida de que talento e envergadura intelectual não faltavam ao Bruxo do Cosme Velho para emular Shakespeare. Há até uma corrente de fundo freudiano que defende que na verdade Bentinho é que era apaixonado por Escobar. Apenas um gênio produziria obra que causasse tanta celeuma por tanto tempo.

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