
Melancolia no lugar do Punk

Em agosto de 1992, o grupo voltou para a estrada. As letras permitiram que os shows ficassem ainda mais míticos. Mas o clima na banda não era dos melhores. Novamente, Renato entrava numa fase perigosa, alertaria Dado. A convivência foi se tornando exaustiva. Renato, já sabendo que era soro positivo, continuava usando drogas e bebendo. Junto com a hora do show, chegava a ressaca. Não raro, se assustava tanto com os efeitos do porre que achava que iria morrer. Renato, que desprezava os aplausos da mídia e dos fãs enquanto o astro se auto destruía (como James Joplin, Kurt Cobain e Jimmy Hendrix), flertava perigosamente com a morte. Certa manhã, chegou à piscina do hotel onde estavam hospedados no Rio Grande do Norte e perguntou por Dado e Bonfá. Fez um escândalo quando soube que ambos haviam saído para conhecer as praias com suas famílias. "Só eu que me interesso pelo trabalho? Então vamos embora". E foi encerrada a turnê. Na volta, Renato decidiu se cuidar. Pensava em si mesmo e na imagem que iria deixar para o filho Giuliano.
Passou a tomar AZT, para retardar o aparecimento dos sintomas da doença. Os efeitos colaterais descreveria como "um cachorro vivo que vai me comendo por dentro". Freqüentou as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Passou três meses internado em uma clínica para toxicômanos. Este tipo de tratamento demonstrava uma grande humildade, elogiaria Rafael. Os trabalhos musicais seguintes não tiveram uma boa recepção do público. Tanto Descobrimento do Brasil (1993), quanto The Stonewall Celebration Concert (1994), seu primeiro disco solo, ficaram no ostracismo.
A depressão voltava a assombrá-lo. Contudo, trabalhava como um louco. Os demais integrantes da banda já haviam percebido que o macete era mantê-lo ocupado, Renato também.
Na noite de 14 de janeiro de 1995, a Legião se apresentava em uma danceteria de Santos, quando uma lata de cerveja acertou o vocalista. Renato passou então 45 minutos cantando deitado no chão do palco. A platéia só o via quando levantava o braço para olhar o relógio de pulso e ver que horas eram. A temperatura esquentou. Quando aquilo acabou, todos estavam convictos de que nunca mais haveria um show do Legião Urbana.
Em meados de 1995, Renato, que tinha ido à Itália colher material para o seu novo disco solo, voltou a ficar depressivo e a se apoiar na bebida. Porém, começou a gravar o álbum. Havia dias em que ele apenas passava pelo estúdio, dava as coordenadas e ia embora. Contraditoriamente, o disco foi o mais tranqüilo já produzido até então. Todo em italiano, tinha um título que autobiografava o momento do cantor: Equilíbrio Distante. A Aids aos poucos avançava e Renato, que lia muito sobre o assunto, tinha plena consciência do que estava lhe acontecendo.

Diante de tudo, apenas fica a dúvida, se podemos considerar Renato Russo um gótico obscuro dos anos 90 ou simplesmente uma alma melancólica, buscando alcançar o que, talvez, nunca soube ao certo. Mas isso, só ele poderia nos dizer...
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